Os nossos navios, vendo-se assaltados por aquela multidão de negros, descarregaram quatro bombardas da primeira vez. Ao ouvi-las, os Negros, aterrados pelo grande estrondo, deixaram cair os arcos e olhando uns para um lado outros para outro estavam admirados de ver as pedras disparadas pelas bombardas cortarem a água junto de si. […] Tentámos depois contactar aqueles Negros e […] então lhe perguntámos por que causa nos ofendiam, sendo nós gente pacífica e vindo tratar de mercadorias. E dissemos-lhes que tínhamos boa paz com os Negros do Senegal e que assim igualmente queríamos ter com eles; que éramos vindos de países distantes para trazer alguns presentes de valor ao seu rei e Senhor por parte do rei de Portugal, o qual desejava ter amizade e boa paz com ele; e que lhes rogávamos viessem a nós pacificamente tomar das nossas mercadorias, dando-nos das suas quanto quisessem […]. A sua resposta foi que, pelo passado, tinham alguma notícia de nós e do nosso modo de tratar com os Negros do Senegal; os quais Negros não podiam deixar de ser maus homens em querer a nossa amizade, porque eles tinham por certo que nós Cristãos comíamos carne humana e que não comprávamos os Negros senão para os comer; por isto não queriam a nossa amizade por nenhum modo.
Cadamosto, Navegações
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