Chegaram as caravelas a Lagos, de onde haviam partido […]. No outro dia começaram os marinheiros a tirar os escravos que tinham trazido para os levarem segundo lhes fora mandado […].
Qual seria o coração, por duro que pudesse ser, que não ficasse cheio de piedoso sofrimento, vendo a situação daquela gente? […] Uns tinham as caras baixas e os rostos lavados em lágrimas, outros estavam gemendo dolorosamente, […] outros faziam as suas lamentações em maneira de canto segundo o costume da sua terra […]. Mas, para a sua dor ser mais acrescentada, chegaram os que estavam encarregados da partilha e começaram a apartá-los uns dos outros, a fim de fazerem lotes iguais. Para isso havia necessidade de se apartarem os filhos dos pais, as mulheres dos maridos e os irmãos uns dos outros […].
Quem poderia acabar com aquela partilha sem grande trabalho? Logo que os tinham posto numa parte, os filhos, que viam os pais na outra, levantavam-se e corriam para eles; as mães apertavam os filhos nos braços para não lhes serem tirados.
E assim os acabaram de repartir com dificuldade, pois, além do trabalho que tinham com os cativos, o campo estava cheio de gente, assim de Lagos como das aldeias em redor, que deixara aquele dia descansar as mãos em que estava a força do seu ganho,somente para ver aquela novidade. E com estas coisas que viam, uns chorando, outros falando, faziam tamanho alvoroço que estorvavam os que faziam a partilha.
E assim os acabaram de repartir com dificuldade, pois, além do trabalho que tinham com os cativos, o campo estava cheio de gente, assim de Lagos como das aldeias em redor, que deixara aquele dia descansar as mãos em que estava a força do seu ganho,somente para ver aquela novidade. E com estas coisas que viam, uns chorando, outros falando, faziam tamanho alvoroço que estorvavam os que faziam a partilha.
Zurara, Crónica da Guiné. Séc. XV
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