LV - (...) Há já algum tempo que desejava falar-vos dos reis e dos príncipes (...). Imaginai agora um desses príncipes, tal como frequentemente se vêem. Ignora as leis, é hostil ao bem comum e apenas se ocupa com os seus interesses; entrega-se aos prazeres, odeia o saber, a independência e a verdade, troça do interesse público e possui como única lei a cobiça e o egoísmo. (...)
LVI - Que direi agora dos cortesãos? Nada há de mais vil, servil e idiota, do que a maioria dessa gente que, apesar disso, pretendem em toda a parte o primeiro lugar. Há apenas um ponto em que são muito modestos. Contentam-se em usar o ouro, as pedrarias, a púrpura e os diversos distintivos da sabedoria e da virtude, mas deixam que sejam os outros a praticá-las. (...) Acotovelam-se para mais se aproximarem do rei, ambicionando apenas um colar mais pesado, que mostre ao mesmo tempo a sua força e a sua opulência.
LVII - Rivais dignos dos príncipes, os soberanos pontífices, os cardeais e os bispos chegam mesmo a ultrapassá-los. (...) Hoje em dia (...), apenas se preocupam em apascentar-se a si próprios, deixam o cuidado do rebanho a Cristo e aos que chamam irmãos e vigários. Esquecem que a palavra bispo significa trabalho, vigilância, solicitude. Servem-se apenas de tais qualidades quando pretendem receber dinheiro, abrindo então os olhos.
Erasmo de Roterdão, O Elogio da Loucura. 1511
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